A empresa Telexfree, alvo de ações judiciais e investigações por suspeita de ser uma pirâmide financeira – o que configura crime contra a economia popular –, bloqueou o sistema de contas de quem investiu no negócio, os chamados “escritórios virtuais”. Estima-se em mais de 1 milhão o número de pessoas com dinheiro na Ympactus Comercial Ltda, razão social da empresa. O bloqueio impede os usuários de verem seu saldo a receber, por exemplo, e não foi determinado pela Justiça ou pelo Ministério Público.
Aos usuários, que se dividiram entre defender a empresa e questionar o bloqueio, a empresa informa ter colocado uma “nova trava de segurança” para “continuar atendendo a decisão judicial” – teria havido tentativa de burla do sistema por usuários na tentativa de resgatar o dinheiro.
O Ministério Público do Acre ressalta haver proibição judicial de novas adesões, não ordem de bloqueio das informações de saldo, até porque os dados são importantes para os usuários comprovarem o que têm a receber da Telexfree, caso haja eventual liquidação (venda) dos bens da companhia para pagar os investidores.
A Telexfree se apresenta como empresa de telefonia VoIP – serviço de ligações pela internet. Ela seria uma rede de marketing multinível: candidatos a participar do negócio pagavam uma adesão mínima de US$ 299 (mais de R$ 600) para virar “divulgadores” e recebiam pacotes de ligações para repassar, mas não precisavam vender nada. A Telexfree comprava tudo de volta. A remuneração vinha da postagem de anúncios em sites, da venda dos pacotes de ligações ou da captação de gente para a rede.
O problema é que Polícia Federal, Ministério Público e Procons de oito Estados, Ministério da Justiça e até a Secretaria de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (Seae) detectaram fortes indícios de que não haveria venda alguma e toda a aparente complexidade serviria apenas para encobrir um esquema de pirâmide, em que o dinheiro das novas adesões banca o lucro da empresa e dos participantes antigos. E a consequência desses esquemas é que muito mais gente fica no prejuízo, muito mais do que todo mundo que já lucrou.
O MP do Acre foi o primeiro a acionar a empresa na Justiça e conseguiu suspender suas atividades e a movimentação financeira, para preservar o dinheiro dos “divulgadores”. Os Estados criaram uma força-tarefa para acompanhar o caso, que se desdobrou em várias outras supostas pirâmides no Brasil, enquanto promotores do Acre entravam com novas ações.
Segunda-feira passada, após receber queixas sobre o bloqueio, a Telexfree usou sua página no Facebook para dizer que a medida foi para cumprir a ordem judicial. Ontem, o MP do Acre divulgou nota, informando que a decisão de bloquear o acesso dos divulgadores foi tomada exclusivamente pela Telexfree e não é medida decorrente de decisão judicial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário